Sida: 15% dos casos são detectados entre imigrantes


O coordenador nacional para a infecção VIH/Sida afirmou hoje que cerca de 15 por cento dos casos são detectados entre imigrantes, devido à sua situação de vulnerabilidade, mas em Portugal o perigo para a saúde pública é a discriminação.

Portugal é dos países da Europa Ocidental em que os migrantes têm um peso menor na epidemia. De facto, entre nós os dados oficiais, resultantes de declarações que têm uma enorme margem de imprecisão, indicam que cerca de 1/6 das infecções são identificadas em pessoas que não nasceram em Portugal», disse à Lusa o coordenador nacional para a infecção VIH/Sida, Henrique Barros, na XII Reunião sobre infecção por VIH/Sida, que decorre hoje em Lisboa.

«Sabemos que em todas as sociedades as pessoas que migram, no sítio para onde vão encontram dificuldades de integração. Estão fora da família, dos seus círculos de apoio social e portanto podem enfrentar mais facilmente situações de uma enorme vulnerabilidade, e esse sim é um risco real para a infecção», acrescentou Henrique Barros.

O coordenador nacional disse ainda que está actualmente em curso um estudo dedicado à saúde da população migrante, especialmente focado em situações de potencial risco de infecção como a sexualidade e a utilização de drogas, para que possam ser tomadas medidas pró-activas junto destas populações.

«[Essas medidas] são promover junto das populações migrantes um acesso à informação, à prevenção e ao teste, e, para os que são positivos, o acesso ao tratamento. E isto, independentemente do seu estatuto legal no nosso país», disse o responsável.

Em Portugal, a população imigrante tem origem sobretudo em países do leste europeu, da África subsariana e da América Latina, zonas do globo muito fustigadas pelo vírus VIH/Sida.

Henrique Barros considerou ainda que Portugal está «francamente melhor no acesso aos meios de prevenção e na detecção e número de testes realizados», mas o «problema real» continua a ser a discriminação.

«Temos acesso aos meios de prevenção, temos acesso aos tratamentos, não temos acesso aos medos das pessoas, aos receios infundados e precisamos de verdadeiramente insistir, informar e formar para que desapareça o mais possível a discriminação e estigma associado à infecção que é verdadeiramente o maior inimigo em termos de saúde pública para se conseguir resolver o problema», defendeu o coordenador nacional.

Para Henrique Barros, apesar de reconhecer algumas melhorias, o efeito das campanhas de informação e sensibilização sobre o VIH/Sida tem sido «pequeno» e considerou que na prevenção «o essencial passa por outros lados».

«[Passa] por não perder oportunidades sempre que as pessoas contactam com os serviços de saúde, passa por informação alargada, honesta, simples, mas não simplória, e que leve as pessoas a ser capazes de pensar as situações de risco e a evitá-las», sustentou.

O coordenador nacional reconheceu ainda que o perfil dos infectados pelo vírus no país está a mudar, havendo cada vez mais idosos portadores de VIH/Sida, uma situação que se explica por ser possível prolongar a vida sexual activa por mais tempo e pelo facto de a via sexual ser a principal forma de infecção da doença.

Desde 1983, o VIH já infectou mais de 33 mil pessoas em Portugal.

Diário Digital / Lusa- 29.11.2008

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