Epidemia de aids atinge 34 milhões de pessoas no mundo, mas número de novas infecções se estabiliza e de mortes diminui


O total estimado de pessoas vivendo com HIV e aids no mundo passou de 32.9 milhões em 2009 para 34 milhões em 2010, segundo os mais novos dados da epidemia divulgados pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (Unaids).

Segundo o Unaids, o número de novas infecções por ano continua estabilizado em 2,7 milhões desde 2007, e o de mortes caiu de 1,9 milhão em 2009 para 1,8 milhão em 2010. Na população infantil a doença caiu de 430 mil em 2009 para 390 mil em 2010.

O relatório cita o Brasil como exemplo de País que investiu bem para o enfrentamento da epidemia. “O Brasil tem investido durante anos adequadamente no acesso aos serviços de prevenção e tratamento da aids, sobretudo, nas populações vulneráveis e marginalizadas. Em 2008, o País investiu mais de 600 milhões de dólares, o que é considerado próximo do necessário para uma reposta completa da epidemia”, informa o documento.

O Unaids compara o Brasil com a Rússia, que fez um investimento da mesma magnitude (800 milhões de dólares), mas que não aplicou bem os fundos e não obteve o sucesso esperado.

Entre os países com renda per capita baixa e média, o Brasil aparece na lista daqueles que tratam com antirretrovirais entre 60% e 79% do total de pessoas que precisariam estar recebendo estes medicamentos, ficando atrás de países como Botsuana, Camboja, Ruanda, Chile e Guiana, que tratam mais de 80% das pessoas

Não é motivo para comemorar, dizem ativistas

Para o coordenador do Espaço de Prevenção e Assistência Humanizada (Epah), de São Paulo, José Araújo Lima, não há motivo para comemorar os números de queda de mortes e infecção em crianças. “Estes avanços são pífios. Os governos têm que se envergonhar, pois, com o conhecimento científico que temos atualmente, seria possível prevenir quase todos os casos de transmissão vertical (da mãe para filho) do HIV”, declarou.

Assim como Araújo, os presidentes dos Fóruns de ONG/Aids do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, Rodrigo Pinheiro e Willian Amaral, também consideram alto o número de infecções nas crianças.

“A diminuição de infecções nesse público significa que o acesso ao tratamento foi ampliado, mas ainda é tímido. Existem países que dependem exclusivamente de ONGs e organismos internacionais para fornecer antirretrovirais. O ideal seria fortalecer as respostas dos governos e a produção local de remédios”, disse Amaral.

O ativista Beto Volpe, fundador do Grupo Hipupiara, em São Vicente, litoral Sul de São Paulo, também não ficou feliz com os números. “Ainda existem muitas crianças infectadas, principalmente por causa do pré-natal inadequado. Algumas vezes são os próprios pais quem menosprezam a importância desse acompanhamento”.

Brasil

Apesar do elogio do Unaids ao investimento brasileiro ao combate da aids, representantes do movimento social acreditam que ainda não é suficiente.

“Falta muito para o ideal: médicos, remédios, assistência. Principalmente no Norte e no Nordeste do país”, afirmou a Presidente do Grupo de Apoio ao Paciente de Aids de São Paulo (Gapa-SP), Áurea Abbade.

A advogada destacou ainda as falhas nas campanhas voltadas às mulheres, aos adolescentes e aos idosos. “As que são focadas no público homossexual são mais eficientes. Porém, as campanhas precisam ser contínuas, e não apenas no 1º de dezembro e no Carnaval. As infecções acontecem durante todo o ano”, disse Áurea.

Rodrigo Pinheiro afirmou que houve alguns avanços, mas ainda há muito o que fazer, principalmente na área da prevenção. “Todo ano sobe o número de pessoas infectadas no país e os municípios têm dificuldade de implementar ações de combate ao HIV entre HSH (homens que fazem sexo com homens) e entre as mulheres. Na área da assistência, ainda faltam remédios e há dificuldades de acesso ao tratamento.”

Para Araújo Lima Filho, “remédio na prateleira não é sinônimo de tratamento. Em São Paulo, a cidade mais rica do país, faltam infectologistas e profissionais da saúde e os médicos estão atendendo um número cada vez maior de doentes. Certamente o Unaids não avaliou isso”.

O ativista Vando Oliveira, do Fórum de ONG/Aids do Estado do Ceará, disse que o retrato do enfrentamento da aids no Nordeste ainda é o “da falta de assistência”. Em Fortaleza, segundo ele, “há escassez de remédios, profissionais, leitos, além de lotação em algumas unidades de saúde, que não podem acolher novos doentes”. Leia aqui.

Willian Amaral reconhece que o Ministério da Saúde faz grandes investimentos contra a aids, mas para ele, não impactam na ponta. “Os Estados e os municípios deixam de aplicar o dinheiro. É o que acontece com o PAM (Planos de Ações e Metas)”, explicou. “O Governo federal deveria atuar politicamente com Estados e Municípios, cobrando a utilização do dinheiro de forma correta”, finalizou.

Agência Aids – 21.11.2011

Deixe um comentário

  • Indique o seu endereço de email para subscrever este blog e receber notificações de novos posts por email.

    Junte-se a 34 outros subscritores