Movimento de Acesso ao Tratamento em Moçambique diz que vai embaraçar o Governo em eventos internacionais, queixando-se da fraca resposta contra a Sida no país


Na véspera do Dia Mundial de Combate à Sida, 1º de Dezembro, o Movimento de Acesso ao Tratamento em Moçambique (MATRAM) anunciou que em resposta à posição do Ministro da Saúde, Paulo Ivo Garrido, que afirma que não volta atrás quanto à ordem para o encerramento dos Hospitais de Dia, a sociedade civil também considera irreversível a ideia de embaraçar o Governo em eventos internacionais.

“O povo moçambicano não pode ficar hipotecado por causa de um Ministro que está a exercer um cargo que devia ser de defesa da saúde do próprio povo”, disse o Coordenador do MATRAM, César Mufanequiço, durante uma conferência de imprensa, ocorrida nessa segunda-feira, 30 de Novembro, na Cidade de Maputo.

Desde o princípio de 2007, quando Garrido passou a dizer em entrevistas que os Hospitais de Dia deveriam ser fechados porque são desencorajadores aos seropositivos pois, ao atenderem os doentes separadamente, trazem mais estigma, o assunto se tornou alvo de crítica das pessoas vivendo com HIV e Sida.

Hoje, quase que totalmente extintos, os Hospitais de Dia tiveram seus pacientes transferidos para outros centros públicos de saúde, mas que, segundo relatos de activistas, causou ainda mais discriminações.

“Antes éramos estigmatizados porque íamos a um hospital diferente, mas agora sofremos a discriminação directa quando somos separados em bichas diferentes no mesmo hospital. Seropositivos de um lado e os ditos normais de outro. Seropositivos assinam o prontuário e aqueles que não têm HIV e Sida não assinam. É assim nosso dia-a-dia nos centros de saúde agora”, contou Victoria Chembene, de 39 anos, referindo-se ao atendimento no Centro de Saúde da Polana Caniço, em Maputo.

Através de um documento, produzido pelo MATRAM e que traz outros casos de estigma após o encerramento dos Hospitais de Dia, Gilda Alfeu Macuácuá, de 45 anos, conta que, no Hospital Militar de Maputo, os pacientes seropositivos são isolados e os últimos a serem atendidos.

“Sem falar dos outros gravíssimos problemas como de roturas constantes de medicamentos, falta de médicos nos dias de consulta, ausência de informação sobre o tratamento e cuidados de saúde e falta de análise clínicas.”

Por conta desses e outros relatos que foram adicionados a um dossier assinado por 15 mil pessoas e entregue à Presidência da República, ao Gabinete da Primeira Ministra, ao Ministério da Saúde e ao Conselho Nacional de Combate à Sida, o MATRAM garante que terá que se utilizar de medidas mais drásticas.

“Quando alguém do nosso Governo estiver a participar de eventos internacionais, vamos interromper e mostrar como é a realidade aqui em Moçambique”, disse Mufanequiço.

Segundo o activista, o problema não é simplesmente o encerramento dos Hospitais de Dia, mas da continuidade das boas práticas que esses centros proviam, como grupo de adesão ao tratamento e acompanhamento psico-social.

“Queremos nos actuais centros de saúde que fazem o tratamento antiretroviral a mesma qualidade que os Hospitais de Dia tinham”, afirma.

Das aproximadamente 1.6 milhão de pessoas que vivem com HIV e Sida em Moçambique, cerca de 450 mil precisariam estar em tratamento, mas pouco mais de 130 mil estão.

O encerramento dos Hospitais de Dia, segundo o Ministério da Saúde, teve por objectivo descentralizar o serviço, aumentando a quantidade de pessoas em tratamento, mas a actual qualidade do serviço piorou, informam os activistas e pacientes.

“Por enquanto, temos a certeza que acabar com os Hospitais de Dia foi uma decisão política e não técnica, já que o serviço está pior”, finalizou Mufanequiço.

O MATRAM critica ainda a escassez de financiamento para as associações baseadas nas comunidades e a maneira que é feita a resposta nacional à epidemia, que segundo esta organização, não contempla alguns grupos vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, deficientes físicos e trabalhadores do sexo.

Esta organização é membro dos Movimentos Global e Africano contra o HIV e Sida.

Agência de Notícias de Resposta à Sida – 30.11.2009

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